Texto: Silêncio

Silêncio não é consenso. Parto desse princípio. Se me calo ante um bandido ao invés de implorar para que não me roube, estou consentindo com sua atitude? Não. Silêncio é medo sim, é vergonha, censura. Mas silêncio também é amor, respeito, gratidão. Lhes dou exemplos que comprovam a minha tese: usa-se o silêncio para a prática do desprezo, para que seja possível que alguém perceba o quanto não é querido ou bem-vindo; usa-se o silêncio quando sabemos que alguém que amamos não precisa de palavras, apenas de companhia, abraços calorosos e ombro amigo. Do silêncio nascem as dúvidas, mas o mesmo também as mata. No silêncio é possível revigorar a alma ou bombardea-la de questionamentos e respostas vãs. Isso tudo ocorre de maneira subjacente. Explicitamente, creio eu que o silêncio é uma faca de dois gumes: fere quem guarda as palavras e quem as espera sem recebê-las. Mediante a tudo o que já foi dito, reforço a ideia de que, para mim, silêncio é o ecoar das mais intensas palavras sobre os mais profundos sentimentos. Palavras essas que ficam gravadas dentro de nós, criam raízes e tendem a se intensificar ainda mais, gerando frutos que se denominam "atos"; esses, por sua vez, devem ser colhidos maduros e vividos em sua plenitude, tornando possível que se dissipe o silêncio provocado por um emaranhado de razões desconhecidas por eles... Mas ferozmente conhecidas por nós.